quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Até onde essa "facilidade" nos levará?

Embora nos referimos à idade média como uma idade “das trevas”, consideramos a população dessa época tão ingênua e ignorante, não estamos tão longe assim dessa situação. Cada vez mais governadores tendem a implantar em seus estados medidas que impossibilitem a reprovação de alunos de escolas públicas, que tem condições de estudos em níveis revoltantes e a população nem ao menos se manifesta, pela “facilidade de passar de ano”, facilmente comparado ao período em que a igreja censurava diversos livros e formas de conhecimento para evitar que a população pense, conteste e busque pelos seus direitos. 
Há cerca de dez anos, o Brasil passa por uma onda de “aprovação automática” nas escolas estaduais. Em sua maioria, estados governados pelo PSBD, se espelham em países como a Inglaterra, onde a progressão continuada é uma medida que apresenta um ótimo rendimento, funciona de uma maneira que nosso país nem ao menos sonharia. A aprovação automática é, como o próprio nome já diz, a não reprovação: não importa se os alunos zerem ou não as provas, eles chegarão ao fim do ano letivo com notas dentro da média independentemente do quão preparados estejam para a próxima etapa.
A reprovação zero em um país como o Brasil é uma atitude equivocada, os governantes aderiram a ela sem considerar o que a torna uma boa medida nos outros países, extinguiram a repetição de séries sem melhorar o ensino, oferecer assistência e aulas de reforço aos alunos que não têm média para passar ou até mesmo diminuir a quantidade de alunos em salas de aula para que a atenção do professor se torne mais “individual”. Aqui no Brasil, o que ocorre é o arredondamento das notas (sempre para cima!) sem melhoria alguma no ensino em si. 
Nossas escolas apresentam uma das maiores médias de reprovação do mundo e isso, de fato, deveria ser modificado, mas não da maneira que vem sendo. Os problemas do aluno só são detectados no final do ano letivo, quando não existe outra saída a não ser reprová-lo. Caso a educação recebesse o investimento merecido, fossem formados melhores profissionais e os alunos que apresentam maior dificuldade recebessem uma atenção especial, estes apresentariam melhores médias conquistadas por mérito próprio, de seus professores que tiveram boa formação e do governo que obteve sucesso em seu plano.
São muitos os defensores da progressão continuada, e seus argumentos variam desde o trauma de alguns alunos reprovados que têm que conviver com uma sala mais nova até os grandes custos com os quais o governo tem que arcar para que o aluno permaneça por mais um ano na escola ou o prejuízo para a sociedade, uma vez que os estudantes demorarão mais para entrar no mercado de trabalho.
Existem diferentes tipos de alunos, alguns claramente têm objetivo apenas de passar de ano, enquanto outros se esforçam para aprender as matérias passadas. Quando um aluno do segundo exemplo é reprovado, ele encara o fato como uma segunda chance, compreende que não tinha condição e nem maturidade para seguir os estudos, então se esforça para conseguir os conhecimentos que não foram conquistados no ano anterior. É claro que ter que rever a matéria de um ano inteiro é desanimador, mas isso deve ser entendido como uma oportunidade nova, e não uma penalidade. O governo tem um compromisso com a educação. Se a taxa de reprovação está alta, é uma consequência do descaso ou mau planejamento feito por ele! Em algum momento os custos aparecerão, seja nas bases, nas primeiras fases escolares ou no futuro, quando alunos mais velhos que mal sabem escrever serão mantidos em uma mesma série um tempo superior ao que a grade escolar exige devido à falta de boas oportunidades na infância. Com esse investimento feito da maneira correta, teríamos profissionais de melhor qualidade, não importando o tempo que ele demorasse para se formar.

Essa realidade não é distante da nossa, basta conversar com um professor da rede pública mineira para entender como é difícil conviver com alunos que sabem que não dependem do próprio esforço para seguir na vida escolar e tornam o ambiente que deveria ser de atenção e seriedade um local de bagunça e conversa, infernizando a vida de quem tem objetivos concretos para o futuro alcançados somente com a dedicação aos estudos. Os alunos descobriram que não precisam mais dos professores para concluir o ensino médio e recebem cotas para a entrada em universidades. Mas será que alunos com ensino tão precário terão potencial ao se deparar com uma realidade tão diferente como o ensino superior ou o mercado de trabalho concorrido com alunos que se esforçaram por toda a vida para chegar lá? 

8 comentários:

  1. https://www.youtube.com/watch?v=FfuXAMufxc4&feature=youtu.be

    ResponderExcluir
  2. Ótimo texto. Diz o que realmente os tais defensores da progressão continuada deveriam compreender. Se o governo teme arcar com altos custos financeiros para manter um aluno por mais tempo que o normal na escola, e coloca em prática o que diz ser uma solução para o problema, falha em “deixar de pensar” (pensar, eles pensam, não é?) no futuro de uma nação que surgirá com profissionais de péssima qualidade e decadência cada vez maior das condições de vida de grande parte da população. Por isso concordo também com a ideia de maior investimento na educação na “base da pirâmide”, desde o início. Já não bastam problemas naturais que praticamente inevitavelmente teremos num futuro não muito distante, e também teremos de conviver em uma sociedade onde a maior parte das pessoas não está preparada para enfrentá-los.

    ResponderExcluir
  3. O texto ficou muito bem articulado, tornando a leitura mais prazerosa. Concordo plenamente no que diz respeito sobre o Brasil ter uma educação precária, quando deveria ser um dos setores com mais investimentos, assim como os países desenvolvidos fazem. Também sou contra a reprovação zero até em países desenvolvidos e também concordo que os professores estão desmotivados e pouco valorizados, mas faltou um pouco de imparcialidade por parte do autor. Ao citar o PSDB e as professoras mineiras, seu texto perdeu créditos, pois além de parecer que está sendo feito uma critica ao partido, não foi citado que o partido da atual presidenta do país não investe em melhorias educacionais. Talvez seus argumentos sejam contra ambos os partidos, mas isso não ficou tão claro quando você citou apenas um. Antes de criticar a reprovação zero, deve ser criticada a péssima educação em que o nosso país está. Aderir a reprovação zero talvez seja um tanto equivocado no momento, mas o principal problema que o Brasil enfrenta é o baixíssimo investimento no setor educacional. Esse pode não ser o tema do seu texto, mas ao falar de um quesito da educação, portas se abrem para falar sobre todo o contexto.


    O atual canditado a presidência do país divulgou essa noticia, que foi enriquecida com dados atuais, tal que está relacionado ao tema do texto: ‘’Demorou, mas o governo Dilma reconheceu: Minas Gerais tem o melhor ensino fundamental do País. O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), elaborado pelo Ministério da Educação, mostra Minas Gerais em primeiro lugar entre todos os Estados brasileiros e o Distrito Federal, tanto nos anos iniciais quanto nos finais.(..) O Ideb foi criado em 2007 e reflete o cálculo da taxa de aprovação escolar e as médias de desempenho em exames aplicados pelo Instituo Nacional de Estudos e Pesquisa Educacionais Anísio Teixeira (Inep). "São Paulo, Paraná e Goiás continuaram avançando muito em busca de uma educação de qualidade. Sem dúvida, isso é a prova do real compromisso do PSDB com a educação. ‘ (JORNAL: O nortão)

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Meu texto é, de fato, uma crítica a um método educacional usado pelo PSDB. O PT também comete diversas gafes em relação a nossa educação, mas a reprovação zero, que é o tema do texto, não é uma medida tomada por eles. Eu publiquei um artigo de opinião, sendo a parcialidade uma de suas características. A intenção não foi criticar o partido, mas sim, uma de suas propostas.
      Apesar do ideb de Minas Gerais ser considerado o melhor do país, isso não significa que a educação no estado não seja digna de críticas, apenas nos mostra que a educação de todo o país é muito precária e tem muito a evoluir.

      Excluir
  4. Realmente a "reprovação zero" é a solução dos problemas governamentais, pois, além de aumentar os índices de qualidade de educação (já que a taxa de reprovação é baixíssima), os gastos com alunos que poderiam ficar mais tempo na escola são cancelados. Tolice sem tamanho! Assim como diz o texto, além de diminuir vigorosamente o nível das séries escolares (sabendo ou não o aluno é aprovado), futuramente, o Brasil terá uma quantidade gigantesca de profissionais desqualificados. É um ciclo sem fim. Além de ser o meio mais fácil, afinal, valorizar os professores, que são a base de tudo; melhorar a infraestrutura de escolas públicas; oferecer material adequado para o aluno sem condição financeira de adquirir; motivar e auxiliar o aluno para que possa aprender de verdade, são métodos muito mais “difíceis” de serem cumpridos. A educação pública da realidade é muito diferente dos números apresentados. Enfim, seu texto ficou ótimo! Você soube muito bem conduzir a estrutura para que pudesse esclarecer e argumentar sobre seu ponto de vista. Fez com que seu texto ficasse rico em informações e detalhes, e as imagens puderam completar ainda mais o assunto. Só não tenho o que comentar do vídeo colocado nos comentários, aqui está indisponível. No mais, adorei!

    ResponderExcluir
  5. Parabéns Lara, você apresentou um tema que é bastante polêmico em nossa sociedade brasileira, alem de ter colocado imagens, e ter feito seus argumentos de maneira que quem leu seu texto saiba sua opinião e posicionamento de acordo com o tema. A repeito da aprovação automática, creio que esta é uma medida incabível para um pais que se denomina em escanção econômica, e desenvolvimento. Pois, a medida que se vai somente passando mais e mais crianças mesmo que estas não saibam nem ao menos ler ou escrever direito estamos prejudicando tanto o presente quanto o futuro da criança e de nosso país já que a esse tipo de aprovação faz com que um efeito domino seja criado fazendo com que no futuro não tenhamos bons profissionais capazes de reger um país por exemplo. Para concluir penso que para aumentarmos nosso índice de aprovação não tenhamos que passar todos alunos mas, sim melhorar nossa educação para que assim como foi dito no texto , as crianças passem por seu mérito e não pelo dos outros.
    Lucas Góes

    ResponderExcluir
  6. Seu texto está bem escrito, contém muitas informações sobre o assunto, as imagens colocadas também complementam o conteúdo. Estamos em um momento de eleições e o tema que a autora escolheu, é um dos temas que devemos pesquisar mais sobre o que nossos candidatos fizeram. Não devemos continuar deixando nossas escolas, alunos e professores como estão, porque se continuarmos com esta educação precária, com os alunos sendo empurrados pela escola para passarem de ano, quais vão ser os trabalhadores do nosso futuro? Qual vai ser o nível dessas pessoas? Portanto na hora de votar devemos pensar melhor, para que não só nossa educação melhore, mas todo o nosso país.

    ResponderExcluir
  7. Muito bom!Gostei bastante do seu texto,ficou claro e super objetivo,as imagens foram ótimas,mesmo com o tema super polemico que você escolheu conseguiu dar sua opinião é deixar claro o porque,e não teria um tema melhor para ser feito do que este,pois foi semanas antes do segundo turna da eleição para o novo presidente.Enfim, gostei muito do texto e, creio que o tema foi muito bem desenvolvido.
    Tífany
    Tífany

    ResponderExcluir

Seja educado e objetivo ao tecer seus comentários!