sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Expressões artísticas indígenas

     A arte indígena brasileira é a arte produzida pelos povos nativos do Brasil, normalmente ligada a vida cotidiana e rituais. Marcado por intensos enigmas, mistérios e originalidade, essa forma de arte exerce grande fascínio sobre outras culturas e merece realce na atualidade.
    A arte indígena difere da arte contemporânea ocidental pelo caráter tradicional e forte utilitarismo porque segue os padrões herdados coletivamente, que passam de pai para filho e desenvolvem poucas variações ao longo do tempo. Além disso, as produções indígenas são quase sempre destinadas a algum uso, não existindo ideia de arte apenas para uso estético.
  Dentre a enorme diversidade de culturas indígenas no Brasil, generaliza-las é enganoso, já que cada povo tem suas próprias percepções.  No entanto, pode-se dizer, que em conjunto, as tribos se destacam na arte da plumagem, cerâmica, cestaria, trançado, mascaras e pinturas corporais.

Adornos corporais da tradição Rikbaksta
    Para os indígenas, as máscaras podem adquirir dois significados: ao mesmo tempo em que são um objeto comum, produzido por um homem, podem representar figuras mitológicas e sobrenaturais. Geralmente são feitas a partir de troncos de arvores, cabaças e palhas de buriti e são usadas em danças e ritos cerimoniais, com objetivo de afastar os espíritos malignos e manter a ordem do mundo. Esses objetos são dotados de simbologias étnicas.
  As peças de cerâmica impressionam por desenhos ricos e bem trabalhados. São utilizados como vasos, recipientes, panelas e esculturas, sendo muitas vezes usadas para armazenar cinzas dos mortos.
    O trançado também tem presença marcante na arte das tribos indígenas. A produção é diversificada em vários aspectos já que podem servir como cestas, tapetes, mesas, peneiras, armadilhas de caça, redes para pesca e instrumentos pessoais, como tangas e pulseiras.
Representação da pintura corporal indígena
  A pintura corporal é uma manifestação peculiar das tribos indígenas, que utilizam tintas naturais oriundas de arvores e furtos. As cores vermelho do urucum e negro esverdeado do jenipapo são as mais utilizadas por transmitir alegria contida nas cores vivas. As técnicas, as tintas e os desenhos possuem distinções, por exemplo, existem desenhos feitos para comemorações, outros para rituais, assim como tintas para crianças e outro tipo para adultos.
      Estima-se que as tribos indígenas já pintavam seus corpos 20 mil anos atrás, considerando essa prática como uma segunda “pele” os indivíduos. Nesse contexto, a pintura indígena era considerada como um instrumento essencial, que pode ser comparado as vestimentas dos europeus. O antropólogo francês Lévi-Strauss analisou esta situações e conclui que “as pinturas do rosto, conferem (...) ao indivíduo sua dignidade de ser humano, elas operam a passagem da natureza à cultura, do animal estúpido ao homem civilizado. (...) elas exprimem, numa sociedade complexa, a hierarquia dos status. Elas possuem uma função sociológica.”
    A plumária também é uma expressão indígena, conhecida mundialmente e impactante, que chamou atenção dos europeus desde o primeiro contato, no século XVI. Vários exemplares foram coletados e enviados à Coroa como um produto estranhamente atraente, que poderia render lucros. 
Representação da pintura
 corporal e da arte
plumária
     As penas e plumas de aves são utilizadas principalmente, na produção de cocar, flechas, pulseiras, brincos, colares, tiaras, petecas, bolsas, instrumentos de trabalho, entre outros enfeites. Essa forma de arte é extremamente simbólica, que pode representar ritos de passagem, estados de espírito, distinções de prestígio e poder, imagens de identidade da pessoa, da família, do clã e da nação. A arte plumária é uma forma de dialogo: ela faz, e diz mil coisas, apresenta-se de várias formas e modos.
     A confecção desses objetos é tarefa dos homens adultos, e suas técnicas são aprendidas depois dos ritos próprios para aprendizagem plumária. As penas e plumas podem ser usadas em estado natural ou transformadas com cortes, desfiamentos e tingimentos. Também podem ser associadas com outros materiais, como couros e peles, ossos, sementes e bambus.  
Colar inspirado na arte plumária
        Atualmente, a produção plumária dos índios brasileiros se ampliou, se espalhando para outras culturas de forma que comumente podemos perceber no mercado objetos feitos à base de penas, como brincos e filtros dos sonhos.
       A Funai, Fundação Nacional do Índio, tem grande importância na divulgação das diversas formas artesanais indígenas. Em 1972, foi criado o projeto “Artíndia”, com objetivo de comercializar produtos confeccionados pelos índios do Brasil e gerar renda para as comunidades, além de divulgar e valorizar a arte. Em 2009, existiam nas lojas peças de mais de 60 etnias, o que demostra que essa organização busca atender diversas etnias.
   
Comercialização do artesanato indígena
     Infelizmente, a riqueza cultural indígena é esquecida e deixada em segundo plano por influências de uma mentalidade portuguesa, que ainda permanece na visão da maioria das pessoas. Entretanto, os povos indígenas sempre tentaram manter suas formas artísticas e buscam valoriza-las nas aldeias. Isso fica perceptível no lamento de um índio Tupinambá capturado em 1616, registrado pelo frei Yves d'Evreux: “Quando eu penso em como as pessoas escutavam o meu pai, que era um grande homem, (...), e quando olho para mim mesmo, um escravo – sem pinturas, sem um ornamento de penas na cabeça, nos braços e nos pulsos -, eu preferia estar morto.”. A arte das tribos indígenas brasileiras transparece de forma expressiva, simbólica, social, histórica; a arte é simultaneamente, simples e extraordinária.
Danielle Cunha da Silva
Júlia Fernandes Sousa

Referências Bibliográficas:

WIKIPÉDIA: Arte indígena brasileira. Disponível em <https://pt.wikipedia.org/wiki/Arte_ind%C3%ADgena_brasileira>. Acesso em 21 de outubro de 2015.

WIKIPÉDIA: Arte plumária dos índios brasileiros. Disponível em <https://pt.wikipedia.org/wiki/Arte_plum%C3%A1ria_dos_%C3%ADndios_brasileiros>, Acesso em 21 de outubro de 2015.

FUNAI: Funai planeja reestruturação do Projeto de comercialização da arte indígena, 2009. Disponível em <http://www.funai.gov.br/index.php/comunicacao/noticias/2284-funai-planeja-reestruturacao-do-projeto-de-comercializacao-da-arte-indigena>. Acesso em 21 de outubro de 2015.

MISTERSILVA, Robson. “Artes e expressão 6”, 14 de julho de 2010/ Página 17. Disponível em https://books.google.com.br/books?id=OWBWBQAAQBAJ&pg=PA17&lpg=PA17&dq=pinturas+do+rosto,+conferem+%28(...). Acesso em 21 de outubro de 2015.

ARTE INDÍGENA BRASILEIRA. Produção da BBC History.2000.1 videocassete (10:37min.). Didático. Port.

MULTARTE: Artes Indígenas Brasileiras e Suas Características. Disponível em <http://www.mult arte.com.br/artes-indigenas-brasileiras-e-suas-caracteristicas/>. Acesso em 21 de outubro de 2015.

MUSEU DO ÍNDIO: Arte Indígena: Pinturas, Cerâmicas e Plumagem, 2015. Disponível em <http://www.museudoindio.org.br/arte-indigena-pinturas-ceramicas-e-plumagem/. Acesso em 21 de outubro de 2015.




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