quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Religião e Regras Sociais

A religião são crenças que a séculos aproximam diferentes povos e molda seu jeito de agirem e pensarem. Na sociedade indígena esta se dá por meio de mitos e tem sua origem com as ligações espirituais entre o ser carnal e o ser divino, seu representante na terra é o Xamã, também chamado de Pajé o qual exerce a função de médico e sacerdote dentro da tribo. A religião indígena é sólida e muito bem elaborada, permitindo ligações entre um indivíduo e a chamada, Mãe Terra, cuja harmonia deve ser estabelecida como condição básica para sua sobrevivência, estando sempre presente nos rituais.
A terra é de todos, e por se acreditar em uma ligação direta entre a natureza e um ser transcendente (Deus), está fortemente ligada a religião, a terra é um espaço de vida, lugar para se viver bem e o índio se sente acolhido por esse meio. Deus, “o Grande Espírito”, “o Grande Pai” ou “o Grande Avô”, como é passado desde a infância para os índios mais jovens, ordena e orienta para que se trate bem a natureza por que a vida de todos na comunidade depende dela, sendo esta uma das principais regras sociais.
 O Transcendente (Deus) em algumas tribos é compreendido como um ser natural, bondoso, que gosta de todos e que está em paz com todos os seres. Algumas nações acreditam no Transcendente como um Ser Superior e em seres menores, seus auxiliares.  Há também religiões que acreditam num mundo espiritual povoado de divindades (espíritos), sem uma hierarquia definida entre eles. São os espíritos dos ancestrais, os espíritos das florestas, das ervas medicinais, entre outros. Os espíritos maus devem ser tranquilizados e os bons devem ser convencidos a ajudá-los. Os nomes dados à divindade superior e aos espíritos variam de uma nação para outra: Maíra, Itukoóviti (aquele que criou todas as coisas), Nhyanderú, Nhyanderuvusú, Nhyanderupapá, etc.  Entretanto, a maioria das tribos dá mais atenção às mitologias de heróis míticos, caracterizados como heróis civilizadores, que ensinaram técnicas, costumes, ritos e as regras sociais aos membros da tribo.   Em algumas tribos o sol ou a névoa que cobre as florestas à tardinha ou de manhã é considerado como o reflexo e a representação ou manifestação do Ser Supremo ou das divindades. Contudo, cada nação concebe o Transcendente e o representa de forma diferente.
Como se pode perceber a religião indígena se difere em algumas tribos de acordo com seus costumes e com o que é passado para eles pelos mais experientes da tribo, há uma diversidade de povos e culturas que se distinguem no tipo biológico, línguas, costumes, ritos, organização social, etc. É o que acontece em algumas tribos em que os mitos e lendas são revividas em rituais nos quais alguns indivíduos se sentem parte da divindade, diferente de outras que somente fazem oferendas, não ousando se comparar a uma divindade acreditada por eles.

Uma das crenças indígena é sobre a vida após a morte, várias pessoas dos diferentes tempos se questionam pelo menos uma vez na vida o que será delas quando morrerem, para os indígenas, de modo geral, acreditasse que cada pessoa possui um espírito imortal, esse espírito que guarda a valentia, a inteligência e a força de cada guerreiro, e esse era um dos motivos das práticas antropofágicas comuns entre povos indígenas antigos, absorver essas características de determinado guerreiro.
Há comunidades como os Krahó, ramo dos Timbíra, que acreditam que não somente os seres humanos possuem espírito, mas todos os seres sejam animais, vegetais ou minerais.  Alguns dividem a alma em duas forças, uma das quais permanece na terra em situação de perigo para os seres vivos e outra parte vai para o paraíso.
Os Kaingáng acreditam que o indivíduo, após a morte, torna-se outra vez jovem, vivendo mais uma vida em outro plano existencial. Morre novamente, transformando-se num pequeno inseto, formiga preta ou mosquito.
Os Kayová acreditam que o espírito ou alma tem uma parte sublime, de origem celeste e outra parte menos boa da alma que se desenvolve durante a existência do indivíduo. Para essa tribo, a reencarnação só é possível para as almas das crianças que morreram.
Os índios Kaingang vivem no sul do Brasil. Desde os primeiros encontros com os europeus, ainda no século XVII, tiveram contatos com missionários católicos e mais recentemente com igrejas pentecostais. Em sua cultura aparecem as chamadas "histórias dos antigos", onde alguns santos - principalmente São Pedro, São João e São João Maria - são personagens recorrentes. Em 1995, o antropólogo Ledson Kurtz de Almeida registrou algumas dessas histórias, narradas pelos índios Vicente Fókâe e Irineu Xarimbang.
A influência da cultura do branco e das religiões, principalmente cristãs devido a colonização europeia impregnaram suas crenças e costumes, na maioria das vezes de forma negativa, levando muitos índios a perderem sua identidade. Muitos recorreram a um reajuste de seus costumes, misturando as duas religiões como faziam os negros africanos trazidos para o Brasil como escravos.
"Quando o Pedro andava pelo mundo com Deus, caminhava muito com Deus. O Pedro era arteiro, então o que Deus fazia ele queria fazer, e foi fazendo. Só que deu diferente o serviço do Pedro. O que Deus fazia ele repetia, mas não dava certo. Deus fez também o peixe e colocou na água e o peixe saiu nadando. O Pedro viu e foi fazer também. Só que Pedro, o que ele fez virou sapo. Então depois disso, Deus subiu pro céu e deixou o Pedro. Era o José o Deus. Daí o Pedro ficou no mundo, ficou na terra, só mentia." (Vicente Fókâe)
Entre os indígenas não há classes sociais como a do homem branco. Todos têm os mesmos direitos e recebem o mesmo tratamento. A terra por exemplo, pertence a todos e quando um índio caça, tem que dividir com os habitantes de sua tribo. Apenas os instrumentos de trabalho (machado, arcos, flechas, arpões) são de propriedade individual. O trabalho na tribo é realizado por todos, porém possui uma divisão por sexo e idade. As mulheres são responsáveis pela comida, crianças, colheita e plantio. Já os homens da tribo ficam encarregados do trabalho mais pesado: caça, pesca, guerra e derrubada de árvores.
A formação social era bastante simples, as aldeias não tinham grandes concentrações populacionais, as aldeias Guarani, por exemplo, podem ser formadas a partir de uma família extensa desde que tenha um chefe espiritual e política própria. A população das aldeias Guarani varia, em média, entre 20 a 200 pessoas. A organização dentro das aldeias é determinada pelas relações de afinidade e consanguinidade. Entre os Guaranis, a liderança espiritual é exercida pelo Tamoi (avô, genérico) e seus auxiliares (yvyraija), pode ser exercida também por mulheres Kunhã Karai. Atualmente, cada comunidade tem um chefe espiritual o Pajé e um chefe político, o cacique, ao qual são dadas aos jovens, lideranças na comunidade indígena em vários setores da sociedade. Até meados da década de 1990 era comum, entre os Guaranis, o líder espiritual e religioso exercer também a função de chefe político na comunidade.
Pajé indígena.
Nas sociedades indígenas podemos perceber dois tipos de procedimentos que contribuem para a manutenção de um controle social: medidas inibidoras e medidas punitivas, sendo que as medidas inibidoras parecem muito mais comuns. Somente quando são esgotadas as medidas inibidoras é necessário aplicar as punitivas.
As medidas inibidoras são procedimentos que utilizam do mexerico até a acusações feitiçaria. O mexerico são comentários inicialmente inocentes que se tornam cada vez mais profundos, por exemplo, a infidelidade de alguém chega nos ouvidos dessa pessoa por meio de outra e age como aviso dando ao indivíduo tempo para se redimir antes que algo pior lhe aconteça. As acusações de feitiçaria é um outro mecanismo de prevenção de crimes, é usada em situações mais sérias e é mais severo do que o mexerico, qualquer doença ou morte poderia levar um indivíduo a ser acusado, mal visto e até aplicado punições maiores.
Quando a ação se torna criminosa e que na opinião do cacique de uma tribo é imperdoável, aplica-se então, as medidas punitivas que variam desde ostracismo (isolamento ou exclusão) ate expulsão ou mesmo a morte.
       Essas medidas são essenciais dentro da sociedade indígena para manter o controle, limitando até onde vai a liberdade de cada um, como isso é definido punições, resolvido conflitos, definido guerras e organizado a caça.
      O cacique ensina que na aldeia quem comete faltas graves, como crimes de morte, paga com o exílio forçado: ''vai para outra aldeia, fica lá e não pode nem pisar aqui mais'' (citação do líder da maior da Reserva Apucaraninha, o cacique Juscelino Vergílio) 

      Nas reservas caingangues atualmente existem cadeias mas apenas para crimes leves como desordem e brigas entre marido e mulher. ''Se brigar, ficam lá dois dias e depois saem. Quando bebe, fica meio valente e não deixa ninguém dormir vai para lá até o outro dia'', cita Vergílio.




                                                               Daniel e Nathan - 1º ano

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