quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Revolta do Uaupés (século XIX)

Localização da região do Uaupés.
           Os índios que vivem as margens do Rio Uaupés e seus afluentes (Tiqué, Papuri, Querari e outros menores) integram atualmente 17 etnias que fazem parte de uma rede de troca, que incluem casamento, rituais e comércio, compondo assim, um conjunto cultural e social definido, comumente chamado de “sistema social do Uaupés”. Nessa região, no século XIX, ocorreram várias revoltas, devido os índios locais pregarem o fim da exploração do uso da borracha, após a criação da província do Amazonas por D. Pedro II, merecendo destaque a Revolta do Uaupés.   

       Nessa revolta podemos enfatizar a presença o pajé Vicente Christu, também conhecido como o messias Baniwa Venâncio Kamiko, que foi um dos mais poderosos pajés do século XIX, pregando a libertação da opressão política e econômica dos brancos contra os índios localizados na região do Uaupés. Além disso podemos destacar os aspectos religiosos, que iam desde a rituais, até a conversas com Deuses da tradição indígena.  
Estátua de Venâncio Kamiko, encontrado no Museu Nacional de Arquivos do RJ.
O QUE OCASIONOU ESTA REVOLTA

     Após a proclamação da independência, o governo federal promoveu vários investimentos para a extração da borracha, e com a sua ascensão como matéria prima o governo tentou convencer os índios que viviam nessa região a deixarem de morar em regiões recuadas e de difícil acesso para viverem em povoados ou nas vilas situadas nas margens dos rios maiores.

      Muitos índios foram escravizados e forçados à trabalharem com a extração da borracha, e aos poucos, isso foi gerando um sentimento de raiva e ódio contra os homens brancos. 

Índios escravizados no século XIX.

      As atividades dos missionários ainda eram frequentes no Brasil e em 1883 os franciscanos, que compunham uma ordem religiosa, chegaram ao Uaupés. Os índios deviam tirar um dia da semana para a construção das casas para as autoridades religiosas e militares, da igreja e da cadeia. Além disso, os franciscanos tentaram acabar com as atividades dos pajés locais e passaram a controlar os regatões- hábeis vendedores dedicados ao comércio ambulante, principalmente através de pequenas embarcações -, que somente poderiam comercializar com os índios através de sua autorização.              
Embarcação de um Regatão. 
         Um desses franciscanos, Frei Illuminato Coppi, é descrito pelas fontes históricas como um homem violento, intolerante, e que não hesitava em ridicularizar os costumes e as crenças indígenas. Em várias ocasiões, ele expôs à vista das mulheres e das crianças, as máscaras e os instrumentos de músicas considerados sagrados, que eram proibidos de serem vistos por elas. Sua última provocação, no dia 28 de outubro de 1883 em Ipanoré, levou à revolta dos índios do local e à expulsão dos missionários franciscanos.

O IMPACTO DA REVOLTA

          Os índios se revoltaram contra este tipo de tratamento e contra sua exploração de mão de obra e dos recursos naturais da região, e como vingança, efetuaram expedições contra os brancos, que utilizavam soldados ou mesmo índios de outras etnias da região para reprimir as rebeliões.
          Os movimentos se espalharam pela região inteira e ameaçaram expulsar os brancos. Os militares locais e da província reagiram a estes movimentos na maioria das vezes com repressão e violência, embora o governo da província mandasse uma comissão oficial para tranquilizar a situação.
     A opressão contra os índios também se expressou através de uma tradição de movimentos religiosos, começando a partir da metade do século XIX. Os índios desses movimentos elaboraram as mais variadas mensagens e ideologias, e organizavam rituais e cerimônias expressando as esperanças dos povos indígenas em conseguirem sua liberdade.
        A partir de 1880, o pajé Vicente Christu começou a contar que se comunicava com "Tupã" (Espírito do Trovão Tupi) e com os mortos. Ele pregava o fim da exploração pelos patrões de borracha e sua expulsão da região. Proclamava ainda a chegada de uma nova ordem social, na qual os índios seriam os patrões e os brancos seus escravos. No início do século XX, ainda ocorreram vários outros movimentos deste tipo na região, sendo alguns reprimidos com violência pelos militares.
       Esse não foi o único acontecimento do século XIX, mas talvez o mais importante. Novamente o homem branco acreditou que poderia mostrar seu poder e vencer os mais fracos, mas estavam literalmente enganados. Os índios, com suas crenças, mostraram-se fortes ao enfrentaram seus inimigos, e após muito sofrimento e perdas, eles finalmente conseguiram o que queriam: A liberdade, pelo menos naquele momento de vitória, pois novas revoltas surgiram, e o mais importante é que os índios nunca abaixaram a cabeça e se deram por vencidos, ao contrário, sempre a reergueram e mostrando porque fazem parte da cultura brasileira. 

Foto de Manaus, capital da 
província em 1865. 
Missionários com os indígenas.
Daniel Almeida
Danielle Cunha 

Referências Bibliográficas

CAROLINA, Ana Lins. Indigenista Aspirante. Disponível em: <http://indigenistaaspirante.blogspot.com.br/2010/06/o-rio-uaupes.html>. Acesso em: 23 de junho de 2010.

WRIGHT, Robin M. História indígena e do indigenismo no alto rio Negro. Disponível em: <http://www.academia.edu/1484505/HISTORIA_INDIGENA_E_DO_INDIGENISMO_NO_ALTO_RIO_NEGRO>. Acesso em: 25 de fevereiro de 2015.

FERREIRA, Tiago da Silva. História do Amazonas. Disponível em: < http://www.infoescola.com/historia/historia-do-amazonas/ >. Acesso em: 26 de outubro de 2006.

GOOGLE LIVROS. Revoltas indígenas no século XIX. Disponível em: < https://books.google.com.br/books?id=JYHBAgAAQBAJ&pg=PA833&lpg=PA833&dq=Revoltas+ind%C3%ADgenas+no+s%C3%A9culo+XIX&source=bl&ots=iGk-qypZu8&sig=_8RyE7EONLAUrR5KklHjE559XYg&hl=pt-BR&sa=X&ved=0ahUKEwj5rN2B3rXJAhVRsZAKHR4pCHYQ6AEIODAE#v=onepage&q=Revoltas%20ind%C3%ADgenas%20no%20s%C3%A9culo%20XIX&f=false >. 

HISTÓRIA DO AMAZONAS. Província do Amazonas. Disponível em: < http://noamazonaseassim.com.br/provincia-do-amazonas/>. Acesso em: 5 de setembro de 2013.

Equipe do Programa Rio Negro do Instituto Socioambiental (ISA). Histórico do contato: fim do séc. XIX até séc. XX. Disponível em: < http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:http://pib.socioambiental.org/pt/povo/etnias-do-rio-negro/1530&gws_rd=cr&ei=M_taVsXHFcPdwgTE9pyoBQ >. Acesso em: setembro, 2002

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