sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Eutanásia: direito de morrer ou matar?

      

   Provavelmente você já ouviu falar em eutanásia, cuja definição é o direito a uma morte sem dor ou sofrimento a doentes em estados incuráveis, de maneira controlada e assistida por um especialista. Apesar da existência de inúmeros recursos menos radicais para aliviar o padecimento e prolongar a vida de pacientes em estados terminais, o tema sempre vem à tona e ainda provoca acaloradas discussões. Mas afinal, legalizar a eutanásia seria então um ato de covardia ou seria um ato de amor ao próximo? Aqueles que sofrem sem nada proferir, se pudessem falar, expressariam gratidão ou se queixariam por suas vidas?

   A eutanásia foi liberada em poucos países, sendo alguns destes Holanda, Bélgica e Suíça. Nas demais nações do mundo, essa prática é estritamente proibida e é considerada uma forma de homicídio. Existe neste caso um conflito entre o Estado, que tem como princípio a proteção da vida, e aqueles que, devido ao estado precário de saúde, desejam dar um fim ao seu sofrimento, antecipando a morte. Um dos principais impasses para sua legalização se encontra também nas doutrinas do cristianismo e judaísmo. Deus nos deu o livre arbítrio; será que não tendo o cidadão mais nenhuma condição física de se auto exterminar e nem de viver plenamente, consistiria em pecado a eutanásia?

   Todo cidadão deve zelar pelo bem-estar físico e mental do seu semelhante, e isso inclui às vezes tomar por ele medidas difíceis e delicadas. Se podemos ter a jurisdição e optar por não prolongar o martírio por tempo indefinido, acho que cabe a nós que o façamos. É certo que, viver é um direito nato a todo ser, mas acompanhado a isso está a qualidade de vida. Existem incontáveis pessoas em estado vegetativo, que respiram por aparelhos e definham ano após ano em cima de uma cama. Não vejo isto como qualidade de vida e é certo que poucos desejariam manter-se desta forma. É importante também levar em conta que muitos pacientes se deixam consumir opressivamente pela doença e almejam de forma precipitada a morte. É por isso que cada caso deve ser particularmente acompanhado e sob muita cautela.

   No Brasil, a prática da Eutanásia é um crime prescrito no art. 121 (homicídio- simples ou qualificado). O código penal brasileiro defende que a ação é um desrespeito à vida e ao ser humano, não levando em conta que talvez possa ser mais desrespeitoso ainda permitir que o enfermo sofra angustiadamente e, muitas das vezes, contando os minutos para que isso possa acabar. Não estaríamos cometendo um crime, mas sim tendo compaixão e solidariedade para com o próximo, o que faz parte dos direitos de qualquer ser em questão. Falta-nos nos colocarmos em situações semelhantes e refletir sobre qual escolha tomaríamos, pois só “sentindo na pele” para termos uma visão mais crítica e, possivelmente, sermos favoráveis a eutanásia.

  A seguir, uma reportagem sobre uma jovem que, após descobrir que possui câncer terminal, se decide mudar para Oregon, localidade onde a eutanásia é permitida.



Fontes:


Priscila Matos

6 comentários:

  1. Gostei muito tanto do tema escolhido quanto da clareza com que foi tratado! É importante discutir assuntos polêmicos que gerem tantas divergências de opinião como este, afinal, dificilmente será encontrada uma solução que agrade a todos e para que cheguemos mais perto disso muita gente precisa amadurecer as ideias. A igreja, apesar de já ter perdido muitos de seus poderes, mantém-se na posição de uma das maiores intituições da nossa sociedade, sendo também, extremamente conservadora dificultando a aprovação de qualquer novo pensamento que entre em pauta, raramente ideias que vão contra ao pensamento católico, que sobrevive desde a idade média, ganham força e conquistam seu espaço. Apesar de considerar um ato frio, sou a favor do método descrito, afinal, a vida em estado vegetativo se torna sofrida, cercada de dificuldades e longe de ser prazerosa.

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  2. Gostei muito do seu texto principalmente pelo fato de quem ele mantem uma continua comunicação com o leitor, fazendo isso através das perguntas que são feitas ao longo texto. O tema escolhido foi muito bom já que é algo atual e que possui grande divergência em nossa sociedade. Apesar de muitos considerarem como sendo um ato frio, considero eu como um ato positivo ,pois é frio matar alguém que esta sofrendo, porem não seria pior deixar a pessoa passar por mais dor sabendo seu fim?

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  3. Assim como a autora, sou a favor da eutanásia quando realizada após e, claro, sob cautelosos processos de análise particular do caso, mesmo nunca tendo passado por uma situação que me levasse de fato até algum problema deste nível. Quando o indivíduo sofre a perda de capacidade de realização das atividades cerebrais, talvez seja incapaz de sentir dor e muitas pessoas poderão pensar que melhor seria a hora de sua morte chegar naturalmente, até porque tal decisão prolongaria seu tempo de vida ao lado de quem o ama. O que acho ser - ainda mais quando as chances de recuperação são quase nulas - uma forma de manifestação de egoísmo, egoísmo este que parece afetar maior parte dos seres humanos quando se trata de relações afetuosas.
    Priscila, gostei demais do seu texto!

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  4. Parabéns, adorei o texto e o assunto abordado nele. Eu já vi caso, no qual, um enfermo só esperava a morte e pedia pra desligar o aparelho, pois não aguentava mais, mas a família não desligava, pois queria passar o máximo de tempo possível com ele. Mas ai que vem o momento de reflexão será que vale a pena passar mais alguns dias com a pessoa que ama, mas o vendo sofrer, e sentindo tanta dor a ponto de pedir pra morrer? É um assunto bem polêmico, e difícil de ser discutido, pois ao mesmo tempo em que está tirando uma vida, você está sessando a dor e sofrimento da pessoa. Seu texto está muito bom e fala claramente e bem organizado o que favorece o entendimento.

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  5. Mesmo que eu ainda não tenha uma opinião seguramente formada sobre o caso, eu defendo que cada caso necessita uma postura correspondente. É claro que é uma condição lastimável e só vivenciando para saber como agiríamos de acordo com a situação. É ainda mais difícil quando não sabemos se o enfermo deseja ou não morrer, mesmo com a má qualidade de vida na qual se encontra, afinal, nem todos pensam da mesma forma. Por isso eu acredito que esse ato é um atentado contra a vida humana, assim é importantíssimo que seja tratado como algo de extrema urgência, e cabe a cada família decidir cuidadosamente sobre o direito de vida de seu ente querido. No mais, eu adorei seu texto! Sua escrita é impecável e muito agradável. Parabéns!!! <3

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  6. Coincidentemente, achei um caso surpreendente que mostra o quanto a esperança é valiosa! Pode ser um caso raro, mas manter a fé é essencial para que ocorra casos semelhantes.
    http://www.psiconlinews.com/2015/01/homem-acorda-depois-de-passar-12-anos.html

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