“Senhor é Jesus Cristo. Pode me chamar de companheiro.” Assim o poeta e tradutor amazonense Thiago de Mello se apresenta antes de falar sobre a vaga na Academia Brasileira de Letras à qual é postulante. O escritor é candidato à cadeira que pertencia ao amigo Ariano Suassuna, morto em julho, aos 87 anos.
O escritor revela, sem problema algum, à imprensa, o motivo que o fez se candidatar à vaga. O poeta diz que foi convencido pelo jornalista e escritor carioca Carlos Heitor Cony, o qual ocupa a cadeira de número três na ABL, a escrever uma carta para o presidente da entidade.
Segundo Thiago, “Simplesmente porque, com mais de trinta livros publicados, alguns deles muito traduzidos, por me sentir querido por leitores do meu país e de outros cantos do mundo, posso dizer, sem a falsidade da modéstia à parte, acho, sim, que tenho méritos literários, de poeta e escritor, para pertencer à Casa de Machado de Assis, meu mestre maior”.
Quando o nome de Ariano Suassuna é falado, o autor lembra uma estrofe do poema “Imagens do Nordeste”, de Joaquim Cardozo, que costumava “dizer a duas vozes” ao lado do amigo e escritor paraibano. “Além de mostrar nos seus livros a própria alma daquele pedaço do mundo, Ariano deu levar, para onde o chamavam, poetas, atores, dançarinas, músicos, artesãos e cantores. [...] O Ariano no retrato da parede, abraçado comigo, continua comemorando os nossos 80 anos num Fliporto que nunca se acaba”, se recorda o escritor, lembrando da Festa Literária Internacional de Pernambuco.
O ano de 2014 foi repleto de perdas da literatura, de autores considerados “imortais”, além de Suassuna, outros dois grandes autores vieram a falecer: Ivan Junqueira e João Ubaldo Ribeiro, além do escritor mineiro Rubem Alves. Para Thiago, o legado que esses nomes deixam para a cultura nacional consiste em suas obras, “um exemplo luminoso de entrega da vida ao estudo e o trabalho criador”. Segundo o poeta, ”para ser um grande artista, é preciso nascer com a vocação e “depois trabalhar, trabalhar e trabalhar”.”
“Nenhuma arte exige mais trabalho do que a do escritor. [...] Pois foi o que cada um deles fez. Cada qual com a sua linguagem. Com o que souberam ver, sentir e descobrir na poderosa fonte que é a vida verdadeira do seu lugar e do seu povo. Da condição humana, cuja alma (quem foi que disse?) é cheia de mistérios.”
Apesar das perdas serem de grande importância, o autor, discorda que a morte desses escritores represente alguma perda à cultura nacional. “Eles enriqueceram a literatura brasileira e a literatura do nosso tempo. Continuam vivos nas suas obras. Vivos em cada um de nós, seus leitores”, diz o poeta.
Abaixo, uma obra de Thiago de Mello :
Arte de amar
Não faço poemas como quem chora,
nem faço versos como quem morre.
Quem teve esse gosto foi o bardo Bandeira
quando muito moço; achava que tinha
os dias contados pela tísica
e até se acanhava de namorar.
Faço poemas como quem faz amor.
É a mesma luta suave e desvairada
enquanto a rosa orvalhada
se vai entreabrindo devagar.
A gente nem se dá conta, até acha bom,
o imenso trabalho que amor dá para fazer.
Perdão, amor não se faz.
Quando muito, se desfaz.
Fazer amor é um dizer
(a metáfora é falaz)
de quem pretende vestir
com roupa austera a beleza
do corpo da primavera.
O verbo exato é foder.
A palavra fica nua
para todo mundo ver
o corpo amante cantando
a glória do seu poder.
Link da reportagem disponível em: http://www.portalimprensa.com.br/noticias/brasil/68189/nenhuma+arte+exige+mais+trabalho+do+que+a+do+escritor+diz+o+poeta+thiago+de+mello
Otávio, como escritor (não negue), o que acha da fala de Thiago: "“Nenhuma arte exige mais trabalho do que a do escritor."? haha
ResponderExcluirGostei muito da matéria; achei o tema interessante e a disposição de links foi genial! E, realmente, 2014 foi um ano do terror para a literatura; apesar de concordar com Thiago de Mello: "Continuam vivos nas suas obras. Vivos em cada um de nós, seus leitores” (emocionada). Entretanto, acho que você se prendeu muito à reportagem.